O VERDADEIRO JUDAÍSMO DA TORÁ

Ze'ev Chafets


 

 

Quando eu era um jovem aluno de bar-mitzvá em Pontiac, no Michigan, perguntei a um bondoso rabino reformista qual era o significado do judaísmo. Ele era um homem mo-desto, e respondeu citando Hillel: "Não faças aos outros o que não queres que façam contigo. O resto é comentário."

Para mim, pareceu uma boa definição. Quinze anos após o Holocausto, não estava pres-tes a engolir nenhuma história sobre um D'us Todo-Poderoso. No meu entender, se D'us realmente existia, Ele não gostava mais dos judeus do que de qualquer outro povo. E se não existia, não tinha muito sentido desistir de cheeseburgers. Sim, realmente, o concei-to de Hillel era o tipo de judaísmo com o qual podia me identificar.

Foi somente quando me mudei para Jerusalém, em 1967, que entrei em contato com os comentários. Jerusalém então, como agora, estava repleta de homens santos-sábios tal-múdicos conhecidos por sua genialidade, cabalistas e rebbes chassídicos que conheciam os mais profundos segredos de D'us, heróis rabínicos recriando os dias de Josué com uma espingarda e um shofar. Rodeado por tamanha santidade e conhecimento, fiquei, obviamente, intimidado. Meu judaísmo faça-aos-outros parecia absurdamente primário e insuficiente.

Então tentei aprender. Estudei Talmud na Universidade Hebraica e numa yeshivá de Jerusalém (não revelo o nome para proteger os inocentes). Passei feriados e Shabat em kibbutzim religiosos e shtibels chassídicos. Tinha certeza de que descobriria o Verdadei-ro Significado do Judaísmo da Torá com os legítimos rabinos ortodoxos.

Acreditei nisso durante muito tempo. Quando o Rabbi Meir Kahane começou a declarar que os árabes eram cães e que o castigo para um muçulmano que casasse com uma judia devia ser a pena de morte, pensei comigo mesmo: esse cara é um rabino extremista marginal do Brooklyn. Ele não fala pelo Verdadeiro Judaísmo da Torá.

Daí veio Rabbi Yitzhak Peretz, ministro do gabinete de Shas. Ele disse que um trem se chocou com um ônibus cheio de crianças porque D'us estava furioso com o fato de um cinema da sua cidade permanecia aberto às sextas-feiras à noite. Eu pensei comigo mesmo: ele pode ser rabino, mas não é um rabino importante, é um político. Ele não fala pelo Verdadeiro Judaísmo da Torá.

Depois foi Lubavitcher Rebbe. Ele permitiu que seus seguidores o proclamassem Mes-sias. Pensei comigo mesmo: ele é velho, não sabe o que seus discípulos estão fazendo. Eles não falam pelo Verdadeiro Judaísmo da Torá.

Daí foi Rabbi Yitzhak Kadouri, o maior cabalista do mundo. Ele amaldiçoou um prédio em Jerusalém que tapava a vista da sua casa. Pensei comigo mesmo: esse homem é um místico. Ele não representa o Verdadeiro Judaísmo da Torá.

Depois, o ex-Rabino Chefe Shlomo Goren anunciou uma ordem para a execução de Yasser Arafat. Pensei comigo mesmo: ele está tão velho que não sabe o que diz. Certa-mente não fala pelo Verdadeiro Judaísmo da Torá.

Rabbi Dov Lior, diretor de uma yeshivá em Kiryat Arba, declarou que era kasher matar mulheres e crianças gentias em tempo de guerra. Pensei comigo mesmo: ele mora em Kiryat Arba. Não fala em nome do Verdadeiro Judaísmo da Torá.

Rabbi Nahum Rabinovitch, dirigente de uma outra importante yeshivá, sugeriu que se espalhassem minas terrestres para impedir soldados israelenses de cumprir ordens na Cisjordânia. Pensei comigo mesmo: ele é um qualquer do Canadá. É claro que não fala pelo Verdadeiro Judaísmo da Torá.

Em seguida, 20 mil alunos de yeshivá reuniram-se para ameaçar e apedrejar arqueólo-gos israelenses. Um de seus líderes, Rabbi David Batzri, proclamou que D'us mandara um terremoto para castigar os cientistas. Pensei comigo mesmo: são uns tontos primiti-vos se desabafando. Não falam pelo Verdadeiro Judaísmo da Torá.

Então Rabbi Moshe Maya levantou-se no Knesset e disse que a punição haláchica para o homossexualismo é a morte. Até provou-o, citando a passagem pertinente. Mas pensei comigo mesmo: dá para provar qualquer coisa citando a Bíblia. Rabbi Maya certamente não representa o Verdadeiro Judaísmo da Torá.

Faz pouco tempo, irrompeu uma disputa entre dois ex-rabinos-chefes de Israel. Rabbi Ovadiah Yosef, mundialmente reconhecido como um dos maiores estudiosos da Torá da nossa época, foi citado como tendo decretado que os fiéis deveriam recusar transfusões de sangue de gentios e de judeus não-observantes, porque eles (nós) têm (temos) sangue perigosamente treif, que pode causar tudo quanto é tipo de comportamento não-judaico.

Seu colega, Rabbi Mordechai Eliyahu, discordou. Na sua opinião, o sangue judeu é ine-rentemente puro e, portanto, incapaz de macular receptores judeus. Quando ouvi isso,
pensei comigo mesmo: bem, o que poderia pensar? Aqui estão duas das maiores autori-dades rabínicas do mundo, nem marginais nem fanáticas, no apogeu de seu poder inte-lectual e espiritual, que têm uma resposta clara à pergunta que me persegue desde os dias do meu bar-mitzvá. O Verdadeiro Judaísmo da Torá não se encontra nem em boas ações nem na fé. Certamente nada tem a ver com algo tão simplista quanto a regra de ouro (o conceito de Hillel). Não, o Verdadeiro Judaísmo da Torá é uma doutrina cientí-fica de pureza racial. Os judeus têm um tipo de sangue, superior; o resto da humanidade tem outro.

Não surpreende que aquele rabino em Pontiac tenha citado Hillel. Ele provavelmente teve vergonha de contar a verdade.

Extraído do Jerusalem Report, fevereiro de 1996, do qual Ze' ev Chafets é colunista. Traduzido por Daniela Hart Katsenstein.

 

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