O VERDADEIRO MURO

Rabino Nilton Bonder


 

 

Por vários anos se estende a disputa pela autoridade do Muro das Lamentações. Os movimentos não ortodoxos reivindicam o uso do Muro como um monumento nacional e não como uma sinagoga que siga os moldes ortodoxos. Os movimentos Conservador e Reformista questionam ter que cumprir normas que atendem a prática ortodoxa tal como a proibição de homens e mulheres de rezarem juntos; a obrigação de indumentárias consideradas apropriadas e um sentimento generalizado de autenticidade outorgado à ortodoxia que lhes faz sentir como cidadãos-de-segunda-classe.

De seis meses para cá dezenas de minianim não ortodoxos estão sendo realizados na nova cessão do Muro que foi aberta ao público como um sítio arqueológico no prosseguimento do Kotel. Trata-se do local conhecido como Arco de Robinson, próximo onde originalmente se encontrava a entrada para o Har Há-Bait, o perímetro do Templo. Apesar de ridicularizado pela ortodoxia, trata-se do mesmo Muro e as mesmas pedras, ou seja, uma continuidade da parede que resistiu ao tempo.

Nesse "novo Muro" hoje podem rezar homens e mulheres juntos, muitas delas de talit e tefilin sem hostilidade. O local, que há pouco visitei, é bastante tranqüilo e convidativo a introspecção e a espiritualidade.

É possível que com o passar do tempo tenhamos dois Muros: um muro conduzido por uma visão ortodoxa, nacionalista e messiânica e outro que represente uma visão progressista, pluralista e humanista. Não será novidade porque diz o Midrash que as quatro paredes, das quais uma é o Kotel, foram construídas por castas distintas. Os mais ricos construíram uma parede de ouro, os menos ricos de prata, os Remediados de bronze e os pobres de pedra.
A única que teria resistido ao tempo teria sido a de pedra.

Talvez mais do que qualquer coisa a necessidade de dois Muros faz do Kotel realmente um símbolo de lamentação. Lamentação pela incapacidade de um único povo rezar junto, de grupos tão próximos e com interesses tão próximos precisarem erigir barreiras tão contundentes à tolerância. Deste lado do Muro é de Lamentações, desde a perspectiva dos céus é de Vergonha.

A boa notícia é que diante do lamentável e da vergonha talvez nossos olhos e corações não possam mais se alienar da ganância que faz de Um Deus muito pouco até para um único povo. Ainda estamos por entender o que é Ha-Shem Echad, um Deus único.

Rabino Nilton Bonder


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