SUKOT E A HUMILDADE
KOL SET/OUT DE 2007


 

 

A Festa de Sukot acontece no final da colheita, no início do outono. Seu tom maior é o fim, o encerramento, o epílogo. Seja de apenas mais uma safra, seja de um projeto, seja de uma etapa ou de uma era, o fim tem o seu tom e o seu matiz específico. Para muitos ele está associado à tristeza e ao temor. No entanto, há outras tonalidades e cadências apropriadas ao outono-finitude que não apenas a melancolia e a consternação. Trata-se da humildade.

A humildade é um aspecto da vida, dissociado da morbidez ou da depressão, que dá bom tom ao que é final. Há beleza na humildade, há vitalidade na humildade e há construção na humildade. A humildade é um matiz positivo da finitude que se contrapõe ao trágico que os finais despertam.

Construir e viver numa Suká não é um artifício lúdico para crianças. É o ritual de entrega para que se possa viver o outono com qualidade. Saídos dos Iamim Noraim, onde pedimos para ser inscritos no Livro da Vida, a Suka simboliza a primeira oportunidade e o primeiro desafio. Algo vai acabar e essa é a natureza maior de tudo. E para estar no Livro da Vida e honrar ao mesmo tempo a experiência do outono se faz necessário muita humildade.

Quando algo acabar, que não seja muito. Seja apenas o suficiente e a perda não será insuportável.

Quando algo acabar, que não seja excessivamente permanente.
Aprenda a possuir com a certeza de que é temporário e a perda não será irreparável.

Quando algo acabar, que não seja insubstituível. Faça com que tudo seja único, mas não maior ou diferente de tudo que ainda não terminou. Assim a perda não será inteira, mas um fragmento.

Ocupe menos. Consuma menos. Exija menos. Descubra que a Suka é um lugar de hibernação da alma onde o simples e o frágil nos protege muito mais do que a altivez, a arrogância ou a ambição. Ali encolhidos em nossa pequena e calorosa toca, encontraremos uma latência que acompanha a vida sem desafinar o seu tom. E seremos despertados por raios de uma futura primavera porque resguardados
e acalentados fomos por nossa humildade.

NILTON BONDER é rabino e escritor