SUKOT E A HUMILDADE |
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A Festa de Sukot acontece no final da colheita, no início do outono. Seu tom maior é o fim, o encerramento, o epílogo. Seja de apenas mais uma safra, seja de um projeto, seja de uma etapa ou de uma era, o fim tem o seu tom e o seu matiz específico. Para muitos ele está associado à tristeza e ao temor. No entanto, há outras tonalidades e cadências apropriadas ao outono-finitude que não apenas a melancolia e a consternação. Trata-se da humildade. A humildade é um aspecto da vida, dissociado da morbidez ou da depressão, que dá bom tom ao que é final. Há beleza na humildade, há vitalidade na humildade e há construção na humildade. A humildade é um matiz positivo da finitude que se contrapõe ao trágico que os finais despertam. Construir e viver numa Suká não é um artifício lúdico para crianças. É o ritual de entrega para que se possa viver o outono com qualidade. Saídos dos Iamim Noraim, onde pedimos para ser inscritos no Livro da Vida, a Suka simboliza a primeira oportunidade e o primeiro desafio. Algo vai acabar e essa é a natureza maior de tudo. E para estar no Livro da Vida e honrar ao mesmo tempo a experiência do outono se faz necessário muita humildade. Quando algo acabar, que não seja muito. Seja apenas o suficiente e a perda não será insuportável. Quando algo acabar, que não seja excessivamente permanente.
Quando algo acabar, que não seja insubstituível. Faça com que tudo seja único, mas não maior ou diferente de tudo que ainda não terminou. Assim a perda não será inteira, mas um fragmento. Ocupe menos. Consuma menos. Exija menos. Descubra que a Suka é
um lugar de hibernação da alma onde o simples e o frágil
nos protege muito mais do que a altivez, a arrogância ou a ambição.
Ali encolhidos em nossa pequena e calorosa toca, encontraremos uma latência
que acompanha a vida sem desafinar o seu tom. E seremos despertados por
raios de uma futura primavera porque resguardados NILTON BONDER é rabino e escritor |