Parashá TAZRIA - Comentários



Parashá Tazria-Metzorá B"H
Comentário - Ronaldo Elie Yallouz


Mehubarot, quando duas porções são lidas em uma mesma semana.
Após a discussão ao final da porção da semana passada, a respeito da tumá (impureza) resultante de animais mortos, a Parashá Tazria introduz as várias categorias de tumá emanando de seres humanos, começando com uma mulher dando à luz. O restante da porção descreve com riqueza de detalhes as várias e numerosas manifestações da doença chamada tsaraat . Embora tenha sido traduzida erroneamente como lepra, esta doença de pele tem pouca semelhança com qualquer moléstia corporal transmitida através do contato normal. Ao contrário, tsaraat é a manifestação física de uma doença espiritual, uma punição enviada por D'us, primeiro pelo pecado da maledicência, entre outras transgressões e comportamento anti-social.

Conhecida como metsorá, a pessoa afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele está sujeita a uma série de exames por um cohen, que declara se o paciente está tahor (puro) ou tamê (impuro). Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um castigo apropriado para alguém cuja língua infame fez com que pessoas se separassem umas das outras. Após descrever os vários tipos, cores e manifestações da doença na pele, cabeça e barba da pessoa, a porção conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.

A Parashá Metsorá continua a discussão detalhando o processo de purificação de três partes da metsorá, ministrada por um cohen, completa com imersões, Corbanot, e a raspagem de todo o corpo. Após uma demorada descrição da tsaraat em casas e a ordem de demolir toda a residência caso a doença tenha se espalhado, o capítulo final da porção discute várias categorias de emissões humanas naturais, que tornam uma pessoa impura em graus variáveis.
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Em Mezibush, a cidade onde nasceu o Báal Shem Tov (fundador do Chassidismo, 1698-1760), dois moradores locais se envolveram numa desagradável disputa. Um dia, eles estavam gritando furiosamente um com o outro na sinagoga local quando um deles gritou: "Vou cortá-lo em pedaços com minhas próprias mãos!"

O Báal Shem Tov, que na ocasião estava na sinagoga, disse aos seus discípulos para formarem um círculo, cada qual segurando a mão do vizinho, e para fecharem os olhos. Ele próprio fechou o círculo, colocando as mãos sobre os ombros dos dois discípulos que estavam à sua direita e esquerda. De repente, todos gritaram assustados: por trás das pálpebras cerradas viram o homem furioso realmente cortando o outro em pedaços, exatamente como tinha ameaçado!

Palavras são como flechas, diz o Salmista, e como carvões fumegantes. Como flechas, explica o Midrash, pois um homem está em um lugar e suas palavras trazem confusão para a vida de outro homem a quilômetros de distância. E como um carvão cuja superfície externa se extinguiu, mas cujo interior continua ardendo, assim também palavras malévolas continuam a produzir seu dano muito depois de seu efeito externo ter acabado.
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Rabi Shimon, filho de Rabban Gamliel, declarou em Pirkei Avot a Ética dos Pais (1,17): "Toda minha vida, cresci entre os Sábios, e jamais encontrei algo melhor para uma pessoa que o silêncio".

Todos nós já ouvimos sugestões semelhantes: "Se você não tem nada de bom para dizer, então fique calado." O que Rabi Shimon quis dizer com isso?
Maimônides, em seu comentário sobre Pirkê Avot explica que existem cinco categorias de discurso:
1. Discurso associado a uma mitsvá (mandamento).
2. Discurso que devemos ter o cuidado de evitar.
3. Discurso que é repulsivo ou degrada.
4. Discurso que expressa amor.
5. Discurso que é permitido.
Maimônides explica então o que quer dizer. O discurso associado a uma mitsvá inclui estudar a Torá em voz alta. Este tipo de conversa é exigido, na verdade; devemos dizer palavras de Torá e prece. Maimônides classifica como um mandamento positivo obrigatório.
O discurso que precisamos ter o cuidado de evitar inclui o falso testemunho, mentir, mexericar e praguejar. A Torá nos proíbe o envolvimento com este tipo de discurso, advertindo a nos guardar contra ele e contra outros tipos de conversa inconveniente, incluindo lashon hará (maledicência, qualquer discurso que ofenda outra pessoa, mesmo que as declarações sejam verdadeiras).

Claramente, Rabi Shimon ben Gamliel não pode estar se referindo a estas duas categorias, pois uma é um mandamento positivo e a outra é uma proibição. Não precisamos de um aforismo para nos dizer o que já sabemos que é uma mitsvá.

O discurso que é repulsivo ou degrada inclui tagarelice, conversa que não tem utilidade, e não beneficia uma pessoa, espiritual ou materialmente. Não há uma proibição inequívoca contra este tipo de discurso, pois ele não envolve amaldiçoar ou mentir. Mas ele não tem qualquer valor. Um pouco diferente da fofoca ou mexerico, pois não espalha boatos ou destrói reputações, a tagarelice comum é inútil e irrelevante, como muito daquilo que passa por novidade. Esta conversa vã, desperdiçada, também inclui elogios negativos e cumprimentos ambíguos.

O discurso que expressa amor ou afeição inclui elogiar o positivo e criticar sabiamente o negativo. Histórias e canções que elevam a alma, inspiram pessoas a melhorar ou inculcam bons hábitos, fazem parte dessa categoria, assim como aquelas que mostram como são repulsivos os maus hábitos e fazem as pessoas desejar evitá-los.

Como os dois primeiros, o comentário de Rabi Shimon não se aplica a esses. Se falássemos continuamente, o dia inteiro, e nosso discurso pertencesse às categorias um e quatro - palavras de Torá e mitsvot e conversação que inspira - isso seria ótimo. É óbvio que não devemos falar falsidades ou ofender os outros com nossas palavras, assim como também é óbvio que tagarelice e "novidades" são uma perda de tempo e fôlego. Isso nos leva à última categoria:
O discurso permitido inclui a conversação que envolve negócios, família, saúde e atividades cotidianas necessárias, como comer e beber. Não há nada de inerentemente positivo ou negativo neste tipo de conversa. Falar ou não falar, fica a critério de cada um.

E sobre este tipo de conversa, nos diz Rabi Shimon o melhor é o silêncio, pois se você tem de falar, assegure-se de que suas palavras combinam com suas ações - e seja breve.
SHABAT SHALOM!


PARASHÁ